domingo, 5 de junho de 2011

ENTREVISTA: Brigadeiro Mata Frakuxz (Extractos)



Fragmentos de uma entrevista concedida por Ikonoklasta ao site Buala.

Acompanhe:

(...) Buala: qual o papel do movimento Hip Hop no amadurecimento de uma cultura contestatária?

Ikonoklasta: não considero sequer que nós tenhamos uma “cultura contestatária”. O que vejo é cidadãos a optarem por uma vertente musical em que um dos critérios é denunciar as injustiças e até pode repreender o governo, moderadamente, sem roçar os limites permitidos pela liberdade de expressão numa pseudo-democracia. Banalizou-se a crítica de tal maneira que já não é necessário, por exemplo, o investimento que foi preciso para diluir o movimento Black Power no Hip Hop americano. Aqui, deram algum espaço de manobra, permitindo eventos de maior dimensão, até com patrocínio dos próprios criticados. Aí começam os compromissos de consciência versus carteira.


B: o sistema já conhece o movimento underground, mas talvez não estivesse preparado para ser driblado pela vossa ousadia…

I: o sistema sabe de tudo o que se passa para além dos nossos quintais, se muitas vezes até os quintais sabe de quem são, quem os frequenta e as conversas que por lá fluem. O movimento underground, associado à contestação e à consciencialização no seu nicho, que aumentou consideravelmente nos últimos anos, é um movimento tolerado mas que tentam controlar de forma inteligente. Para já, têm a vida facilitada pelos próprios órgãos de difusão, públicos e privados que, subservientes, se dedicam todos a uma assassina auto-censura. Ficam os artistas limitados à sua independência e capacidade de organização para conseguir utilizar outros veículos para difundir o seu produto. Para nós, a palavra de ordem é: “viva a pirataria!” Mas queria fazer especial referência ao novo fenómeno dos “grandes” espetáculos de Hip Hop que até têm orçamento para “encomendar” artistas estrangeiros. É um grande salto e não é por acaso que empresas afectas ao próprio MPLA estejam hoje a financiar esses shows que saem do nosso anterior pequeno universo. Jogam com a vaidade do ser humano, à qual nenhum “underground/revú” está isento, com a sensação de conquista, de sucesso. O artista que chega ao patamar de Atlântico ou Karl Marx, não vê com muito bons olhos o regresso à plateia de 30 pessoas, com o som a fazer feedback e o vizinho como técnico de som. Assim se doma a fera, atirando-lhe bifes suculentos que, na realidade, mais não são do que presentes envenenados.




B: a razão para o vosso desabafo estava lá. Mas a linguagem usada no Cine Atlântico não terá desvirtuado um pouco o sentido da contestação?

I: antes de mais sou um ser humano com sentimentos e, depois, um artista com preocupação social, mas não um político de Assembleia. Não preparei o meu comício com escolha sábia de palavras polidas, não tive o sangue-frio suficiente para manter o tom de voz dentro dos limites que se diz publicamente aceitáveis. Não há qualquer tipo de premeditação da verborreia, há sim a emoção incontida e momentãnea de algo que se quer eternamente silenciado que finalmente explode e a ingenuidade de um irremediável sonhador. Tudo isto com uma plateia de ouvidos sedentos de mensagens directas e a euforia que se gerou naquele pequeno momento. Foi assim que saiu. Se o uso de palavrões num acto público me descridibiliza ou me tira a razão, deixo ao livre arbítrio dos meus pares.(...)



Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui



J.I

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