quarta-feira, 3 de março de 2010

ENTREVISTA: Nganga Wa M'bote (Filho da Ala Este)



Zona Sul - Quem é, e porquê Nganga wa mbote?

Nganga wa Mbote: Meu nome de registo é Paulo Manuel Magalhães, nascido aos 20 de Abril de 1978,
adoptei o nome de Nganga wa Mbote devido a Afro-renascença, fugindo e banalizando as culturas euro-cêntricas,porque os nomes na língua materna têm uma identidade,uma
Cultura,um significado concreto e na língua materna Kimbundo, Nganga Wa Mbote significa (feiticeiro do bem).

ZS - Quando é que começou a cantar, e quais foram as suas influências?

NwM: Comecei a cantar em 1993, e gravei a minha primeira música no mesmo ano no estudio
Futuro do Mister Power, e as minhas influências vieram do House music, eu escutava muita música electrónica, eu ficava contagiado quando ouvisse o grupo Real to Real,
Sneep, Mc Hummer, depois fui subindo, ouvindo Naughty by Nature, N.W.A e Das Efx.
Cá na banda sentia as cenas dos manos como Soldados de Rua, G.C Unite de Kool Klever, Acção Positiva, etc...



Nganga Wa M'bote e Wyma Nayoby (Filhos da Ala Este)


ZS - Os Filhos Da Ala Este fazem Rap desde os anos 90, é um dos veteranos e carismáticos grupos de Rap underground em Angola, sendo isso, porque até agora não lança uma obra discográfica?

NwM: É assim, na altura devido a certas situações precárias que o país vivia, tínhamos chegado a um acordo que não era o momento certo para lançarmos um disco, não havia incentivo por parte do próprio movimento Hip Hop alternativo, também devido ao medo que havia por partes das ditas gravadoras independentes não arriscaram ou seja não apostaram nos Filhos Da Ala Este, e por outra, certos elementos do grupo dedicaram-se
mais às suas formações profissionais, uns constituíram famílias, uns emigraram… enfim.
Mas com tudo estamos a trabalhar na medida possível que este ano ainda o disco da Ala Este saia, estamos a bumbar no sentido, não fugindo da nossa tecla, politicamente Rap.

ZS - Num contexto geral leva a música como uma profissão?

NwM: Sendo um artista de intervenção, um ativista do rap eu digo que levo a música Rap como escola da minha vida, sendo ela arte, alimento para alma, então uso-a como veículo de protesto, de educação, Rap é arte de rua e eu não fugi à regra. Agora leva-la como profissão, ainda é um pouco complicada.

ZS - Qual é a analise que faz do Rap de ontem, e o Rap de hoje?

NwM: Anteriormente éramos mais unidos, havia mais meetings, palestras, workshops, espectáculos, enfim, a paz de espírito, a irmandade, a vontade de trabalho reinava
no seio do movimento, e fazia-se sentir o Rap na rua. Agora no Rap de hoje é só intrigas o chamado beef, não há união, há muitos conflitos entre os rappers, estão a cagar para a música arte, cada um por si. Mas não significa que não se faz um bom Rap, há muitos bons Mc's nesta nova geração, mas é necessário que haja mais conexão entre os rappers. Sinto a falta de B.boy's, grafiteiros e Dj's de Rap que quase não existem, são muito poucos.


ZS - Qual é o teu ponto de vista do Rap underground e o mainstream (comercial)?

NwM: Para mim, quem intitula-se comercial, é como um porco que entrega-se à lama
porque a música é que é comercializada, e não o artista, até porque não adianta retratar coisa que não tens ou não vives, esta tudo bem que o Rap tambem é diversão, mas eu não faço comédia com a minha música. Falando do Underground, é aquele que faz música por um proposito, por um objectivo social, que tem uma mensagem positiva, um despertar de conciência, só é mesmo underground quem realmente vive, e sente o Rap.

Nganga numa performance no Salão Verde (Noites de Ritmo Arte & Poesia)

ZS - Sendo um Mc actualizado, és da opinião que foi num momento certo a organização do can de 2010 em Angola?

NwM: No meu ponto de vista sim, fez-se quatro magníficos estádios, que na minha opinião
é a maior e melhor obra que o governo ja fez em curto espaço de tempo, é uma mais valia no sector do desporto e não só, surgirão aberturas de novos empregos, e vamos ter daqui endiante parceria com outros paises em termos de actividades desportivas, é melhor um estádio do que uma simples ponte(risos)...

ZS - O que tens a dizer sobre a nova Constituição?

NwM: Na minha forma de analisar as cenas, não vai haver uma mudança enquanto a lei só for para pobres, não há democracia onde a lei só protege a burguesia. Se Angola é uma nação livre, soberana e democrática então que haja uma política transparente onde a lei se faça sentir, lei para todos. Mas vamos esperar o Presidente da República disse e muito bem "tolerância zero" (risos).

ZS - Que sentimento e nostalgia tens dos MC´s e Crew’s de outrora?

NwM: Epá até dá vontade de chorar de nostalgia quando lembro dos manos da minha época, foi a melhor fase que o Hip Hop Angolano já teve, é difícil esquecer manos como: Reino Suburbano, Zip, Soldados de Rua, Pobres 100 Culpa, Mutu Moxi, Fortaleza Neutra, Prollema Sul, Inferno 9, Afrontamento, Incógnitos do Arredor, Família B.K, Anónimos, os activistas do Movimento da Konsciência Revolucionária, são muitos que agora não me vêm à memória, mas contudo paz e amor para os manos de ontem.




ZS - 2 MC´s e 2 produtores nacionais?

NwM: Adhamou (Filhos da Ala Este) e o Intelectu tcc Mutu Moxi. Produtores eu admiro muito o D.H ele é muito original e talentoso, outro é o puto Yony da X-Music, é um produtor não conhecido mas acredito que tarde ou cedo estará na ribalta da produção.

ZS - 2 MC´s e 2 produtores internacionais?

NwM: MC´s: KRS-ONE e Last Imperius. Produtores: Vinci Paxi e 9th Wonder.

ZS – Hobbies?

NwM: Uma boa cerveja fresca, um churrasco na companhia de amigos, estar com minha pequena, namorar, construir ideias, escrever e ouvir música.

ZS - Projecto de momento?

NwM: Meu EP a solo que sai brevemente, intitulado "A lógica" que esta a ser preparado no Fontenário Recordez, e o álbum dos Filhos da Ala Este.


Fontes:

entrevista: http://www.zonasulupv.blogspot.com/

fotos: Carbono (CCC Produsons)

J.I