domingo, 1 de julho de 2018

Venda & Sessão de Autógrafo Da Obra Livre Pensador De Carlos Hendrick | Dia 4 De Agosto


1. Preâmbulo: Como em qualquer obra, Hendrick dedica esta faixa introdutória a apresentação do projecto, com vista a chamar a atenção e prender o ouvinte de modos que continue a fazer essa convidativa viagem que ao terminar, alcance a consciencialização de todos aqueles que se mostrem sensíveis a mudança por coisas que façam algum sentido;

2. FelicidadeHendrick e M-Lírico, apresentam nesta faixa o ideal de felicidade, ou seja, apresentam duas possíveis vias para a concretização da mesma, partindo de uma perspectiva filosófica ou ética, que compreende a realização e satisfação pessoal sem no entanto perigar o seu próximo e este modo de buscar a felicidade, o artista faz-nos lembrar que é representada pelo paradigma do filósofo, Sócrates e outro modo de buscar a almejada felicidade é representada pela figura de Maquiavel e, com essa figura, Hendrick quer remeter-nos a pensar à ideia segundo a qual os meios justificarem os fins, não importa que meios foram empregues, importa apenas os fins; essa imagem, leva-nos a determinadas pessoas imediatistas que por essa Angola abundam. Nesta abordagem, os artistas mostram-nos a perigosidade que esta forma de buscar a felicidade acarreta. Contrariamente a solução socrática, aquela que se baseia na paciência e que emana da subjectividade (espiritualidade). Quando a busca da felicidade assenta sob bases materialistas, a consequência primeira, é esvaziamento do interior das pessoas.
3. Grito de liberdade: A arte sem liberdade é ilusória…Hendrick, revisa o debate em torno da liberdade artística, de forma subtil, demonstra o que seria chamado arte sem liberdade. Obviamente o mau da arte resulta da negação da exercitação da liberdade que pode dizer-se o que se pensa considerando o facto que um artista é arauto da sua comunidade e sem essa faculdade, compromete a vida de muitos que se veriam livres da ignorância objectiva, porém, Hendrick, convida-nos a estimular e a consequente apreciação das suas vantagens do uso pleno da liberdade de expressão;
4. Auto-determinação: Numa única estrofe, o artista fala da auto-terminação como sendo o fundamento para não desmoralizarmo-nos muito menos perdermos a esperança ante as adversidades e, sobretudo, traz a sua experiência como pai, uma experiência sempre desafiante e ingente desde que o mundo é mundo. Só com auto-determinação conseguimos discernir as possibilidades que existem independentemente das atribulações que a vida nos proporciona. A presente faixa, é um apelo que brota da necessidade de cada um olhar para o seu interior e nele encontrar forças sempre que estiver em desvantagem em relação a qualquer circunstância;
5. Pensador-livre: fruto da sua formação moral e intelectual, Hendrick, frequentemente recorre aos clássicos (filósofos) e nesta faixa traz a figura intemporal, Aristóteles, sublinhando a sua excelência na escrita, obviamente fruto da exteriorização do pensamento, com essa incursão, Hendrick, assume que pensa autonomamente não aceitando qualquer inerência no seu raciocínio. O livre-pensador, é no entanto aquele que expressa o que sente cujo único compromisso que tem é com a verdade, Hendrick explica-nos então que o consideremos livre-pensador porque conhece e compreende que a arte tem como escopo o “desaprisionamento” da comunidade. A arte do pensador livre, deve, no entanto, estar distante e isenta de qualquer pressão;
6. Carnaval: naturalmente quando pensamos no carnaval, a ideia primária que nos ocorre é de um acto de informalidade, desvio do que é socialmente padronizado (independentemente de ser uma festa popular), pois, é um momento de elevação emocional razão porque sua duração é curta, Hendrick e Beckloy trazem essa imagem para aquilo que é o maior cancro das elites afriacanas, a governação. Os dois arautos reforçam a suspeita de existir uma incapacidade dos que governam em África, que mesmo usando a ciência, lamentavelmente com ela não conseguem organizarem-se e proporcionar uma vida digna aos seus concidadãos; algo que endureceu a crítica dos Mc´s fazendo transparecer estarmos diante de uma realidade próxima a barbárie porquanto os reais problemas continuam a não constarem das agendas dos líderes dirigentes africanos. Beckloy e Hendrick, nesta faixa, fazem ver um notório aborrecimento e certa incredulidade em relação ao futuro deste continente, isto é, em virtude de haver possibilidade de se mudar a realidade e por questão de falta de vontade politica nada é feito.
7. Arte Poética; os artistas são entes necessários e com isso não se quer dizer que o são por agradarem todo o ouvido ou como se diz popularmente a “gregos e a troianos”, mas por dizerem o que a sociedade deve necessariamente ouvir para a sua elevação espiritual. Dada a sua despreocupação em relação a manutenção da sua própria vida e seus acidentes (acessórios), o poeta como dissemos, é um mensageiro “ que suja as mãos” para salvar sua comunidade. Mais uma vez, Hendrick, socorre-se dos filósofos clássicos sobretudo no que toca a verticalidade que um ente humano deve cultivar para apreciar o belo de uma obra de arte ou apregoar qualquer ideia que se mostre relevante para educar a sociedade;
8. Velha Xica: é uma alegoria como sabemos extraída da obra de Valdemar Bastos que retrata as agruras porque o povo angolano num passado recente esteve forçosamente obrigado a viver. Hendrick, faz uma transferência da ideia de Valdemar e aplica-a no país do seu tempo. Nesta faixa, é possível depreender o propósito do autor ao tentar fazer uma leitura antecipada do que seria o mandato do Presidente João Lourenço, questionando a “Velha Xica” sobre o “cativeiro” de JES, mas supostamente a Velha Xica nega-se avançar qualquer prognóstico porquanto não quer decepcionar-se, preferindo assim viver um dia de cada vez. É de resto uma viagem sonora que se recomenda.
9. Fogo cruzado: é uma reafirmação da postura artística evidenciada ao longo dos seus diversos trabalhos. Beckloy e Hendrick, cada um apresentando a sua versão sobre o que é ser consistente quando se defende um ponto de vista que apresenta características e elementos suficientes de irrefutabilidade. Nesta faixa, os dois elementos ressaltam a consciência “trabalhista” que vêm cultivando durante muito tempo isso independentemente do que as pessoas eventualmente digam. Em todo caso, os resultados estão a vista de todos e, naturalmente são eles que servem de barómetro para mensurar a produtividade ou não. Razão pela qual, abre-se um fogo cruzado lírico contra os cultores de boatos e que adoram o clima de ociosidade.
10. Hip-hop: Hendrick faz um tributo à essa incomensurável cultura da humanidade porque toca de forma indelével e confere-nos uma cosmovisão única, os seus feitos são por demais visíveis. Nesta faixa, o artista procura acentuar o facto de por via do rap, a cultura Hip-hop ter feito parte da vida dos afro-americanos que pugnavam para a concretização dos direitos civis, como escolas iguais, direito a votar e ser votado e demais direitos que inerem na vida dos entes humanos. Convém que reconheçamos que tudo que se possa dizer em torno deste movimento, sempre será exíguo.


(Texto de Khadya Lubuato)

Shia Neurose

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